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sexta-feira, julho 25, 2008

Knol e a "colaboração moderada"

Anunciado desde o fim de 2007 com a resposta do Google à Wikipédia, o Knol (uma corruptela de knowledgement) foi oficialmente aberto ao público nesta semana (dia 23 de julho).

São muitas as diferenças em relação à "enciclopédia livre e aberta".

Como o blog oficial do Google coloca, a autoria é a chave do novo projeto. Se na Wikipedia a autoria não é explicitada nos artigos (o que não significa que as contribuições sejam anônimas), no Knol os autores são estimulados a se identificar e associar diretamente seus dados aos textos produzidos, inclusive incluindo fotos e links para páginas pessoais.

Não há intenção de produzir um texto consensual sobre cada tema. Os autores são orientados a escrever artigos opinativos e individuais sobre cada tema. Um novo interessado no assunto pode, além de comentar, escrever seu próprio texto como resposta ao anterior. Não há sequer um modelo de texto a ser seguido, ao contrário da Wikipédia, que tem um rígido livro de estilo a ser seguido.

A partir de conceito de "colaboração moderada", o autor de um texto é, por padrão, o único a alterá-lo. Se quiser, pode convidar por e-mail "revisores" para o texto, inclusive antes de torná-lo público.

Os direitos autorais recomendados pelo projeto seguem o padrão Creative Commons, mas é possível alterar para o bom e velho "Todos direitos reservados".

É possível habilitar anúncios do Adsense relacionados ao artigo publicado.

Por ora, está disponível apenas para artigos em inglês.

Análise:

Simplesmente comparar o Knol com a Wikipédia parece-me redutor. Esta propõe-se a ser uma enciclopédia que, ao seu modus operandis, procura gerar um consenso, ainda que provisório, sobre determinado tema.

O Knol é uma mistura de fórum (como o próprio site diz) e revista de forte tendência acadêmica, a julgar pelos primeiros artigos publicados e destacados. Aliás, segue a lógica das revistas ciêntíficas tradicionais, fortemente baseadas nas revisões dos pares e no respeito à autoria. Ao agregar recursos de mídia social (a Gabriela Zago observou bem este aspecto), pode-se dinamizar uma área ainda pouco afetada pela web 2.0.

Alguns problemas já foram detectados e destaco o fato dos artigos não estarem categorizados, o que dificulta bastante a navegação. Fora a busca e os destaques da home, a solução é consultar uma lista absurda de links em ordem alfabética.

E permanece a polêmica: as páginas do Knol têm um peso maior no ranking de buscas do Google? Um dia depois do lançamento do projeto, um terço dos artigos em destaque já estava no top 10 das buscas. Outro exemplo foi relatado pelo próprio autor de um texto sobre a língua russa.

Posts relacionados: Por que torço pela Wikipédia? e Hierarquia e Cauda Longa na Wikipédia

quarta-feira, julho 23, 2008

Jornais são cada vez mais locais, diz pesquisa

Após entrevistar 259 executivos de jornais norte-americanos de diferentes portes, pesquisa recém-lançada do Pew Research Center caracteriza assim os jornais de 2008:

- têm menos páginas do que há três anos, o estoque de papel é menor e as histórias estão mais curtas.
- Publica-se menos matérias nacionais e internacionais, há menos espaço dedicado à ciência, às artes e outros temas especializados.
- A cobertura de negócios ganhou espaço próprio no jornal.
- As palavras-cruzadas encolheram, as listas de TV e dados sobre estoque de empresas (stock tables) foram excluídos.
- Cobertura local cresceu e a reportagem investigativa continua sendo valorizada.

A tabela abaixo deixa clara a tendência do aumento de notícias de caráter comunitário e local, associada à queda de informações de agências de notícias:



Em sua análise, Marshall Kirkpatrick, do ReadWriteWeb, associa a novidade ao potencial crescimento de anunciantes locais e realização de eventos pelas publicações:
While that makes sense, we wonder whether the rise of location-aware computing devices could lead to a shift in even local advertisers and be the last nail in the coffin after Craigslist. There may be other ways for even local news to be monetized, though. How many online news organizations make their biggest money from events?
Ao relacionar com a realidade brasileira, Carlos Castillo aponta uma contradição com uma tendência também identificada na pesquisa: a diminuição das redações.
A ênfase dada ao noticiário local revela um esforço da imprensa em recuperar a confiança do leitor por meio da oferta de informações sobre sua cidade, seu bairro e sua rua. O problema é que este tipo de cobertura jornalística exige um grande número de repórteres dispersos em áreas bastante extensas, o que entra em conflito com as políticas de redução de gastos e de pessoal, adotadas por todos os veículos de comunicação, em intensidade variável.
Sobre a tendência do local, vale a leitura do post do Tiago Dória sobre projetos que unem ainda dispositivos móveis e geolocalização.

Post relacionado: Esboços sobre hiperlocalismo

segunda-feira, julho 21, 2008

Ranking "social" do IMDB: Batman já é o melhor filme

O IMDB é minha grande referência ao pesquisar qualquer dado sobre cinema.

Por usá-lo para apenas para consultas (como faço com o AllMusic Guide, por exemplo), só hoje descobri, via Chá Quente, que o site tem um ranking elaborado a partir dos votos dos usuários e, pasmem, o novo filme do Batman já seria o melhor de todos os tempos!!



A fórmula usada para hierarquizar os filmes, baseada na "true Bayesian estimate", é esta:

weighted rating (WR) = (v ÷ (v+m)) × R + (m ÷ (v+m)) × C

where:
R = average for the movie (mean) = (Rating)
v = number of votes for the movie = (votes)
m = minimum votes required to be listed in the Top 250 (currently 1300)
C = the mean vote across the whole report (currently 6.7) for the Top 250, only votes from regular voters are considered.

Isto é, considera a média dos votos de um filme, um número mínimo de votos para figurar o top 250, a média de todos os votos dos usuários regulares e, principalmente, o número de votos para o tal filme.

O peso desta última variável torna a liderança de The Dark Knight ainda mais surpreendente, pois recebeu apenas 69.135 votos, contra 289.984 de O Poderoso Chefão, atual vice.

Atualização em 25/07: pela fórmula disponível no site do IMDB, o número de votos tende a diminuir, e não aumentar a nota final de um filme. Nossa confusão deve-se a uma leitura de algumas explicações mais gerais sobre a fórmula. Valeu o toque, Thiago. Ainda sobre o tema, vale a leitura do post A Closer Look at Online Rankings.

Buzz?
Distorções da mídia social?
Clássico instantâneo?

Enquanto não vi o filme, posso apenas desconfiar de uma lista que tem Um Sonho de Liberdade em terceiro lugar...

Atualização em 25/07: Tá, o filme é bacana, mas está longe de merecer esta posição...

Post relacionado: Digg altera "algoritimo editorial"

Cartoon: Nacionalismo e hierarquia na Wikipédia

Via ReadWriteWeb.

Espero em breve retomar posts sobre wiki.

quinta-feira, julho 17, 2008

Definições de jornalismo cidadão

Jay Rosen, professor da NYU, propôs uma definição para jornalismo cidadão:
“When the people formerly known as the audience employ the press tools they have in their possession to inform one another, that’s citizen journalism.”
Em português,
“Quando as pessoas anteriormente conhecidas como público usam as ferramentas de imprensa que possuem para se informarem umas às outras, isso é jornalismo do cidadão.” (Tradução de Alexandre Gamela)
O mais bacana é o desdobramento do conceito, proposto inicialmente via Twitter, por outras pessoas. Vale a pena acompanhar.

Vi a dica no Ponto Media.

quarta-feira, julho 16, 2008

(Ainda) o projeto do Azeredo e o escândalo dos banners do Senado

Passei os últimos quatro dias completamente off-line (mini-férias com direito à pescaria de um belo dourado de 8,5kg!) e, de volta, tento recompor as discussões em torno do projeto de lei que criminaliza o uso da internet.

Atualizei a relação de links sobre o tema publicada na semana passada e, dentro do possível (estou de mudança nos próximos dias), volto a fazê-lo em breve. Dois destaques: o vídeo Orgasmo Produzido e o artigo Como azedar a proposta da Lei Azeredo discutem os riscos da criminalização excessiva de comportamentos sociais, o que me parece uma das discussões mais relevantes em torno deste projeto. O artigo Internet brasileira precisa de marco regulatório civil, não criminal, publicado pelo Ronaldo Lemos em maio de 2007, também discute esta perspectiva.

O que me chocou nas leituras recentes, no entanto, foi a denúncia do Contraditorium: o Senado Federal paga R$48 mil por mês para exibir um banner no site www.paraiba.com.br.

Tão grave quanto o contrato com este valor absurdo é a alteração de informações na página do Senado (o contrato seria anual, e não mensal...) após a denúncia e suas repercussões.

Além do Contraditorium, recomendo uma leitura da síntese do Global Voices em português.

Essas e outras nos ajudam a entender porque tanta gente séria apoia a extinção do Senado no Brasil.

quinta-feira, julho 10, 2008

Links sobre o projeto de lei sobre crimes na internet

Aderi de imediato às manifestaçoes que circularam na internet contra o projeto de lei que regulamenta o uso da internet no país, mas confesso que, como da outra vez, imaginei que o projeto rapidamente cairia no esquecimento após ser metralhado pela esfera pública virtual.

Não: foi aprovado pelo Senado na madrugada do dia 10 e vai para a Câmara dos Deputados em caráter de urgência, com previsão de votação já em agosto.

A hora é de mobilização, então por ora tento organizar aqui uma série de links que podem nos ajudar a entender o que está em jogo. Dei preferência a fontes primárias e analíticas mais recentes e, dentro do possível, pretendo atualizar a lista nos próximos dias - novidades em negrito.

(Atualizado às 10h de 21/07/08)

- Versão atualizada do Projeto de Lei da Câmara nº 89 de 2003 aprovado em Plenário dia 09 de julho de 2008

- Íntegra do Projeto de Lei da Câmara nº 89, de 2003, e Projetos de Lei do Senado nº 137, de 2000, e nº 76, de 2000 (arquivo rtf).

- Entenda o projeto de lei dos crimes cometidos por meio de computadores - em matéria da Agência Senado, o senador Aloisio Mercadante os pontos polêmicos do projeto

Manifestações:

- 82 posts do dia da Blogagem Política, muitos deles discutindo a Lei Azeredo.

- Lei sobre crimes virtuais transfere ação do Estado para a sociedade, diz Abranet - Folha Online, 11/07/2008. Infelizmente o site oficial da Associação Brasileira de Provedores de Internet não se manifesta sobre o tema, mas vale a pena dar uma olhada no Código de Auto-regulamentação de operadores de rede e de serviços internet (.pdf) proposto pela entidade.

- Resposta da Assessoria do Senador Eduardo Azeredo à Carta Aberta da Blogosfera (via Google Discovery).

-
OITO PERGUNTAS AO SENADOR AZEREDO SOBRE OS CRIMES NA INTERNET - Réplica do Sérgio Amadeu à resposta da Assessoria de Azeredo.

- Petição online EM DEFESA DA LIBERDADE E DO PROGRESSO DO CONHECIMENTO NA INTERNET BRASILEIRA (com mais de 11 mil assinaturas neste momento).

- MANIFESTO EM DEFESA DA LIBERDADE E DO PROGRESSO DO CONHECIMENTO NA INTERNET BRASILEIRA, publicado no blog do Sérgio Amadeu.

- Texto Segurança e Liberdade na Internet brasileira, de Fábio Luis Mendes, consultor Legislativo da Câmara dos Deputados. Uma das poucas vozes favoráveis ao projeto, faz críticas diretas ao Manifesto em Defesa...

- Chamada para o Dia da Blogagem Política, prevista para 19 de julho.

- Nota da ABCCiber, reproduzida pelo Alex Primo

Posts analíticos:

- No vídeo Orgasmo Produzido, o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. fala sobre o risco de criminalizar atitudes socialmente aceitas (via Biscoito Fino e a Massa).

- Artigo Como azedar a proposta da Lei Azeredo, publicado por Fábio de Oliveira Ribeiro no Observatório da Impressa (15/07/2008).

- Análise de alguns artigos do projeto pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV.

- PELO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO... PELO DIREITO DE COMPARTILHAR, EM DEFESA DAS REDES P2P - Blog do Sérgio Amadeu (11/07/2008)

- 2 motivos básicos para rejeitar o PLS 76/2000 - Chá Quente (11/07/2008)

- Site de senador foi feito em desacordo com projeto de lei de crimes virtuais - PSL Brasil (11/07/2008)

- Cut Copy - Alexandre Matias analisa a proposta à luz da "cultura do remix" (10/07/2008)

- Análise do Pedro Doria sobre a aprovação no Senado (10/07/2008)

- Sobre Cibercrimes (08/07/2008) e Mais sobre a aprovação do projeto do Azeredo (10/07/2008) da Raquel Recuero, que (surpresa) também é graduada em Direito

- Terrible new Brazilian Internet law proposal will criminalize brazillions of people (Boing Boing, 04/07/2008)

- Artigo Aseredu cuntinua num intendendu a Tenéti, do Marcelo Trasel no Nova Corja (25/06/08).

- O Projeto de Lei do Senador Eduardo Azeredo e seus custos para o Brasil - nota da Escola de Direito da FGV.

- Quadro comparativo entre o Projeto de Lei do Sen. Eduardo Azeredo e a Convenção contra o Cibercrime do Conselho da Europa (Budapeste/2001) - Safernet


Selos de repúdio ao projeto:



quinta-feira, julho 03, 2008

UFV, aí vou eu...

Saiu hoje no Diário Oficial, então agora é pra valer:

em poucas semanas este que vos fala será professor da Universidade Federal de Viçosa.

A aprovação no concurso (um tanto desgastante) para a disciplina "Jornalismo Online/Novas Tecnologias" foi no meio de junho. Estarei vinculado ao departamento de Artes e Humanidades, que abriga o curso de jornalismo.

Casa com cachorro e jardim, foco no doutorado, bicicleta como meio de transporte, pesquisa e extensão, horários de ônibus Viçosa-BH... Por enquanto, muitas idéias e poucas definições.

Hoje à tarde sigo pra lá, acompanhado pela digníssima, para uma primeira incursão "oficial" pela cidade. Estou empolgado pra burro.

Por ora, veja só o astral do campus:

Polêmica: como planejar e executar um site?


Como Não fazer um site de Mídia Social? (CMS)
foi o post publicado pela Celia Santos no blog Midia Social. Lá, relata a série de dificuldades técnicas que vem tendo para o desenvolvimento do Desabafo de Mãe, um site pra lá de bacana.

Não tardou e a Ladybug publicou uma resposta (Como fazer um site - para qualquer fim) um tanto crítica às colocações iniciais. Marco Gomes emendou (Como fazer um empreendimento na Internet) outra resposta bem direta ao post do Midia Social.

Polêmicas à parte, o assunto é interessantíssimo e os dois primeiros post estão cheios de links de primeira.

quarta-feira, julho 02, 2008

Alguns trabalhos acadêmicos (recentes) de JOL

Alguns trabalhos bem bacanas realizados em cursos de jornalismo e citados pela blogosfera nos últimos dias:

- Ambulantes no Trem, TCC de cinco estudantes da Universidade Anhembi Morumbi. Via Andre Deak, que publicou um relato de um dos novos jornalistas sobre a reportagem multimídia.

- Descampado, trabalho sobre o campus da UFPE realizado na disciplina Jornalismo Investigativo, sob coordenação da profa. Adriana Santana. Via GJOL.

- Focas na Rede, TCC de três alunos de jornalismo da UFMG dispostos a elaborar uma rotina de cobertura multimídia com periodicidade semanal. Gostei tanto do produto quanto do processo (participei da banca deles na terça, dia 30).

Aproveitando o embalo, visite o post anterior com alguns trabalhos que fiz com meus alunos no semestre que está acabando. Ou já acabou.

Atualizações:

- Entre Muros da Colônia - especial multimídia produzido por alunos da USP


P.S. - Em breve, grandes novidades.