Nova linguagem visual
Eduardo Tristão Girão
Cada um dos seis diretores do longa-metragem 5 frações de uma quase história, que começou a ser rodado terça-feira, em Belo Horizonte, dispõe de um telefone celular com câmera digital para registrar bastidores das filmagens e cenas que integrarão o making of da película. Todos esses conteúdos estarão disponíveis em breve no site da Telemig Celular integrando projeto que disponibilizará (para seus clientes) cerca de 50 conteúdos de vídeo, até outubro, no site da empresa pelo sistema WAP (que permite navegar pela internet através do celular). Marcos Barreto, gerente de desenvolvimento cultural da Telemig adianta, ainda, que estão em estudo a transmissão de clipes musicais do projeto Conexão. A empresa atende aproximadamente 3,5 milhões de clientes, mas não sabe precisar quantos aparelhos estão aptos a reproduzir os vídeos.
Ao mesmo tempo em que esse projeto apresenta o telefone celular como mídia alternativa para divulgar produções cinematográficas, a atual tecnologia do próprio aparelho impõe barreiras para realização da proposta. Cenas com muita movimentação de câmera, movimentos rápidos e tomadas de ação acontecendo em partes pequenas do quadro prejudicam a visualização de filmes no celular – sem falar, é claro, de legendas, que se tornariam ilegíveis. “Fizemos opção por trabalhar com menos aparelhos, só os melhores, para não distorcer imagem nem som”, explica Barreto.
Para o cineasta e artista plástico Cao Guimarães, que enxerga o suporte como um novo desafio, as deficiências do telefone celular para transmitir vídeos não representarão apenas um lado negativo da questão. “A limitação técnica se transforma na linguagem dessa própria mídia, como por exemplo, a baixa resolução”, afirma. Ele cita a documentarista Consuelo Lins como exemplo, já que ela participou de festival de vídeos feitos com câmeras de telefone celular em Paris. “Não há como saber onde isso vai parar. Na minha infância, a realidade era o que a gente via, era a rua. A nova geração já nasceu com essa tecnologia, olhando para a tela do computador. Antes de nascer, já somos imagens no scanner do ultra-som”, diz.
DE GRAÇA A Telemig Celular já disponibilizou no seu site, em caráter experimental, 10 trechos de curtas-metragens realizados pela produtora mineira Teia. Os downloads podem ser feitos gratuitamente pelos clientes da empresa. Apenas sete modelos de aparelhos podem reproduzir esses vídeos. “Quando fizemos a migração para o sistema GSM Edge, começamos a pensar em como colocar essa tecnologia a serviço de projetos culturais. Com os aparelhos se tornando cada vez mais evoluídos, começamos a vislumbrar um projeto coletivo na área audiovisual. Queremos contribuir para divulgar produções que não chegariam espontaneamente ao público”, explica Barreto.
O gerente de desenvolvimento cultural recebe muitas propostas de interessados em divulgar gratuitamente trechos de filmes tanto no site quanto via celular, mas a iniciativa deve contemplar somente as produções apoiadas pela empresa. “Teremos em breve uma nova realidade de produção digital, com mais pessoas se familiarizando com equipamentos cada vez mais poderosos. Isso pode ser promissor, mas também pode gerar uma banalização enorme. Mas estamos nos cercando apenas de pessoas sérias, com sólida formação audiovisual”, avalia.
"A limitação técnica se transforma na linguagem dessa própria mídia, como por exemplo, a baixa resolução" Cao Guimarães, cineasta e artista plástico