Pelos comentários, Bernardo Esteves avisa: vale a pena ler o post do Pedro Doria baseado no artigo Digg, Wikipedia, and the myth of Web 2.0 democracy, de Chris Wilson na revista Slate.
Em suma, o artigo questiona a proclamada democracia em sites de conteúdo colaborativo como a Wikipédia e o Digg. Nestes, aponta, há uma minoria de usuários que comandam a administração, realizando grande parte das atualizações e muitas vezes impedindo a plena participação dos menos ativos.
Vários argumentos e dados citados não são novidade, como a revolta que a alteração do algoritmo do Digg provocou na elite que domina a edição do site. O fato de 1% serem responsáveis por metade das edições também não surpreende: em 2007 circulou amplamente a regra dos 1%, que generaliza a mesma proporção encontrada numa pesquisa acadêmica realizada no Palo Alto Research Center.
Algumas conclusões desta pesquisa (PDF), no entanto, chamam a atenção. Uma das hipóteses dos autores previa um papel de guardiões para os editores mais ativos, isto é, suponha-se que estes se ateriam mais a aperfeiçoar os artigos do que a acrescentar novas informações. Descobriram o contrário: quem já editou mais de 10 mil vezes inclui o dobro de informações do que apaga, enquanto os usuários menos frequentes preocupam-se mais em consertar do que adicionar. O gráfico abaixo revela a intensidade da participação da minoria:
Surpreende o fato dos "líderes" preocuparem-se muito mais com a abertura de novas frentes de trabalho, enquanto os "operários" ocupam-se com os erros que ficaram para trás?
A conclusão da pesquisa norte-americana não vai de encontro ao que parece um consenso: a Wikipédia é um site altamente hierarquizado, ao contrário do que os utópicos da inteligência coletiva nos querem fazer crer. Como dizem Tapscott e Willians em Wikinomics, a produção colaborativa “mistura elementos de hierarquia e auto-organização", num processo caracterizado pela “divisão altamente especializada de trabalho”.
Por fim, basta citar, acompanhada de um gráfico, uma frase enfática do prof. Ed Chi, um dos autores do estudo: "We have a long tail architecture of participation in Wikipedia"
Em suma: hierarquia, auto-organização e cauda longa são os componentes explosivos do principal case de um modelo promissor de produção de conhecimentos.
PS - a) Discordo de Doria quando ele diz que o "discurso popular é que quem entende de um assunto escreve um verbete". Muitas páginas pessoais mantidas dentro da Wikipédia revelam que é comum os usuários escrevem sobre vários assuntos, sem qualquer coerência aparente.
b) Dentre as baboseiras escritas pelos visitantes do Doria, vale ler o comentário do Hermenauta. c) Aliás, Doria, o título do post - Como Funciona a Wikipédia - está um tanto otimizado para ferramentas de buscas, não?
Posts relacionados: Por que torço pela Wikipédia e A Wikipédia no acidente do vôo TAM 3054
6 comentários:
Olá Carlos!
Mas me diga, você achou a minha bobeira maior que as outras? :)
abçs!
Oi, Hermenauta,
possivelmente seu comentário é o único que fazia sentido no meio de tanta conversa cruzada (e fiada). Tem tudo a ver com as bobagens que nos propusemos a discutir...
Abraço!
Oi, Carlos --
Todos meus titulos sao escritos pensando naquilo que alguem procurando pelo assunto no Goolge possa escrever... =)
Oi, Pedro, compreendo.
Mas acho que neste caso alguns visitantes seus vindos do Google não ficarão tão satisfeitos, pois seu post não explica efetivamente como funciona a Wikipédia, como faz por exemplo
esta página do How Stuff Works
Oi, Carlos --
Desculpe mas acho que vc está sendo purista. O 'como funciona' vem porque o artigo da Slate tenta explicar como funciona o processo de criação dos artigos e a interação social por trás.
Vc poderia argumentar que não é o como funciona literal, cartesiano, no sentido de manual do software e do site, mas é um como funciona sociológico, o que de fato acontece segundo a pesquisa do PARC.
Oi, Pedro,
reconheço que minha posição é purista, mas necessária como oposição a tantos e tantos blogs e textos caça-cliques criados por aí (o seu blog, evidentemente, não se encaixa nesta crítica). A otimização excessiva de textos para ferramentas de busca me incomoda como jornalista e usuário de internet.
abraço
Carlos
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