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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Presente e futuro da BBC (e das emissoras públicas)

Como uma das mais antigas, tradicionais e ricas emissoras de TV do mundo está se posicionando frente à atual mudança de comportamento dos telespectadores? Qual o futuro da empresa símbolo de bom jornalismo e TV de qualidade?

A BBC é um caso único. Sempre financiada por impostos diretos, pagos por todas as famílias britânicas que têm aparelhos em sua residência, a emissora tradicionalmente não precisou preocupar-se com audiência ou viabilidade comercial. Até 2016 esta situação está garantida: a licença-imposto compulsória (TV licence) - 131,50 libras anuais - foi renovada no ano passado.

Criada para cumprir a função de educar e informar todos os cidadãos britânicos, a BBC é cada vez menos uma referência para eles. A audiência dos dois canais abertos (BBC1 e BBC2) caiu de 47% para 33% nos últimos 20 anos; o índice é evidentemente menor nas casas com TV por assinatura ou parabólica: 23%. A idade média dos telespectadores está acima dos 50 anos.

O resto do público? Assiste aos concorrentes ITV e Canal 4, MTV, outros canais por assinatura e, é claro, consome informações (audiovisuais, inclusive) via internet. A
conclusão de um executivo da BBC é sumária: "estamos oferecendo um serviço excessivo para uma audiência branca, de classe média e de 55 anos de idade". Isto é, não justificaria cobrar a contribuição de todos para atender a uma minoria.

Por outro lado, a BBC soube, como poucas empresas da mídia de massa, posicionar-se na era da internet: seus portais são referência em conteúdo jornalístico, inclusive multimídia, e estão cada vez mais abertos às práticas do jornalismo cidadão. Sua influência em nível mundial, antes baseada nos programas radiofônicos do Serviço Mundial, produzido em Londres em diferentes línguas, cresceu muito com a internet.

Esta discussão é importante também para as emissoras públicas brasileiras. Todos pagam, mas quem assiste à TV Cultura, Educativa, Minas e outras regionais? A publicidade (ou apoio cultural), cada vez mais presente nestas emissoras, é a melhor maneira de viabilizá-las? O que estão fazendo para posicionar-se frente à complexidade de mídias existente hoje? A iniciativa da vender programas em DVD através da Cultura Marcas me parece uma das poucas, talvez a única iniciativa interessante.

A maior parte dos dados aqui apresentados foram extraídos da reportagem Public-service broadcasting - The future of the BBC, publicada na revista The Economist e parcialmente traduzida por Jô Amado para o Observatório da Imprensa.

Leia também sobre o Serviço Brasileiro da BBC.

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A segunda etapa das férias começa neste fim de semana. Dificilmente algo será postado até o início de fevereiro, quando espero ter folêgo para implementar algumas mudanças sempre adiadas. Até lá.


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