Nesta semana, dois acontecimentos aparentemente opostos - novas reações contra a reprodução de charges ofensivas ao profeta Maomé e os megashows dos Rolling Stones em Copacabana e U2 - trazem-nos ao menos uma característica comum: a capacidade de reunir multidões em torno de grandes manifestações políticas, culturais ou ao menos midiáticas.
Não há dúvida que a rápida dissemição de informação através da novas tecnologias, especialmente a internet, teve papel fundamental neste processo. É impressionante, por exemplo, que a publicação (no ano passado) de 12 charges de mau gosto em um jornal obscuro de um país até então inexpressivo politicamente tenha nos colocado à beira de um conflito entre civilizações. Tamanha repercução só foi possível após uma divulgação muito rápida via redes eletrônicas, colocando frente a frente os valores muito distintos de Ocidentais (liberdade) e Orientais (sagrado).
Em interessante entrevista publicada no último domingo no caderno Mais!, da FSP, o historiador norte-americano Robert Darnton vai além: "A comunicação entre culturas não traz a compreensão automática, e mesmo no longo prazo as coisas podem piorar. Por mais que tenhamos fé na comunicação aberta e na capacidade da mídia se espalhar e penetrar em territórios distantes, acho que seríamos inocentes se achássemos que a comunicação por si mesma nos levaria a um final feliz" (íntegra da entrevista só para assinantes UOL ou FSP).
Do lado de cá, mais histeria. Milhões de fãs vão se espremer hoje em Copacabana para ao menos ouvirem o show dos Rolling Stones; milhares se penduraram ao telefone, enfrentaram filas ou ficaram online para conseguir ingressos para as apresentações do U2, e agora acampam à espera da abertura dos portões. Nínguém duvida do peso dos eventos; as passagens anteriores das bandas pelo Brasil, no entanto, definitivamente não provocaram tamanho frenesi, ainda que fossem estréias. Quantas comunidades Eu vou, Eu consegui ingresso etc já devem se espalhar nos sites de relacionamento? Vamos aguardar os fotologs com imagens escuras dos eventos... Adaptando Darnton, o mundo pop penetrou de vez no distante território tupiniquim e a promessa é de final feliz.
Aumentam a comunicação, a idolatria, vontade de fazer história, a desinformação. As mãos que lançam pedras em embaixadas são as mesmas farão coreografias para o novo DVD dos Stones?
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